não entendi logo de cara sobre o que se tratava e não consegui ninguém pra ir comigo.
fui sozinha.
foi o primeiro evento a que fui desacompanhada.
há uns tempos atrás eu esperava que alguém me salvasse de mim
que alguém aparecesse e me cuidasse
que alguém me orientasse e me olhasse, como antes não fui
mas ninguém fez isso
há uns tempos atrás a minha casa caiu.
meu corpo desabou junto às minhas dores
caímos e não sei até hoje pra onde fomos
a única coisa que eu sei é que era eu quem estava lá
fui eu quem me resgatei
levou tempo pra me curar, é fato. mas fui eu quem me olhei, me cuidei e me levantei
eu sei que eu estou machucada de novo.
mas, dessa vez, não foi a queda bruta.
dessa vez foi o processo, lento e doloroso, de me entender só
de entender que ninguém consegue me dar o colo que eu quero
e que isso traz junto a sensação de ser solitária.
eu já tinha entendido a minha força pra me reestabelecer,
mas não tinha entendido a dor de ficar em pé.
acho que o ensaio sobre autonomia significa, então, ficar em pé
uma vez que você encontra suas pernas
nenhum colo mais é suficiente,
porque nenhum é o seu
e dói. porque ficar em pé sem apoio dói.
mas as pernas se fortalecem.
e existem diversas formiguinhas lá embaixo torcendo por você.
elas não conseguem te manter em pé, mas elas não te deixam mais cair.
acho que é esse o significado da autonomia. formiguinhas se multiplicando.
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